Frederico Cézar Abinader Dutra (Foto: PGE/TO)
Desde a criação do Estado do
Tocantins, na Constituição Federal de 1988, indaga-se sobre uma maior e melhor
interação entre o novo Ente Federativo com a União e seus órgãos, estes, em sua
grande maioria, sediados no Distrito Federal, sendo Brasília, no popular,
reconhecida como o centro das decisões institucionais mais importantes para
povo tocantinense, e, porque não, também para todos os brasileiros.
O Estado do Tocantins historicamente
é representado pelos seus Deputados Federais e Senadores, através de seus
gabinetes, do ponto de vista legislativo federal, mas, pelo executivo estadual,
esta tarefa sempre foi atribuída ao próprio Governador, diretamente e/ou
através de seus órgãos competentes, em especial pelo seu secretariado próximo.
Desde de 1989, a propósito, a
unidade representativa da Secretaria de Representação em Brasília-DF, exerceu
as suas atividades no Distrito Federal, perante os órgãos da União, em especial
no acompanhamento de verbas e resposta aos controles exercidos sobre estes
recursos financeiros, além de excelentes parcerias com órgãos representativos
internacionais, desde bancos de fomento e investimento, conglomerados
multinacionais e até embaixadas dos respectivos países interessados no
crescimento do Estado do Tocantins.
Essa tarefa de representação,
muito honrada, foi exercida com excelência pelos Ilustríssimos Secretários e
Representantes em Brasília-DF, nos mais diversos governos. É verdade também
que, em alguns momentos, as atividades foram, por vezes, mal interpretadas pelo
contingente deslocado às referidas finalidades, chegando a haver a
interpretação da sociedade tocantinense de um excessivo volume de servidores para
o exercício das respectivas atribuições.
Tal questão chegou ao ponto
extremo de a própria representação executiva do Estado do Tocantins se vulnerar
e ser extinta, algo impensável desde a sua criação ocorrida no final dos anos
80, inicialmente impulsionada pela energia e otimismos gerados no processo
constituinte.
Bem, este tempo passou, e,
hoje, a representação como órgão político não existe mais, o diálogo dos órgãos
executivos certamente restou prejudicado, em especial com as suas respectivas
bancadas federais, pois, sem o devido filtro, que retira a acidez de
divergências políticas, as conversas retilíneas dificultaram, em especial, os
esforços coletivos que deveriam ser guiados ao bem comum do povo tocantinense.
Inobstante a simplificação e desburocratização que resultaram em diversos avanços
financeiros e organizacionais, há de se reconhecer que houve uma redução na
interlocução entre bancadas federais e executivos.
Em Brasília, restaram apenas
os seus órgãos técnicos, que inadvertidamente foram absorvidos pela
Subprocuradoria do Estado do Tocantins em Brasília-DF, unidade orgânica da
Procuradoria Geral do Estado do Tocantins, responsável pelo acompanhamento de
processos judiciais no Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça,
Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal de Contas da União, Tribunal Regional
Federal da 1ª Região e Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, na Justiça
Federal de primeira instância na Seção Judiciária do Distrito Federal, além de
procedimentos contenciosos eventualmente iniciados nos órgãos executivos
federais.
A extinta Secretaria de
Representação em Brasília-DF chegou a ter centenas de servidores trabalhando
pelo Estado do Tocantins e pelos tocantinenses, vários de maneira permanente,
concursados para as atividades administrativas de suporte, de recursos humanos
ao cerimonial do executivo, além de uma assessoria técnica de servidores com
uma capacidade de acompanhar e exercer atividades voltadas à captação de
recursos, que elevaram estes em pelo alguns bilhões de reais nos últimos anos,
dados que são anualmente computados nos relatórios confeccionados pelos
servidores “herdados” pela PGE-TO em Brasília.
Assim, como ocorre com a
unidade da Defensoria Pública do Tocantins sediada em Brasília-DF, a
Subprocuradoria do Estado do Tocantins em Brasília-DF possui uma vocação
técnica e política totalmente diversa daquela que se justificava nas
atribuições conferidas ao Secretariado do Tocantins em Brasília, porquanto este
deve ser destacado e independente, pois se volta a uma arena política de
representação e continuidade de serviços, na busca de recursos, e na execução
de uma vontade popular outorgada à Chefia do Poder Executivo, em suas escolhas
pessoais e coletivas, mas também para a manutenção de um permanente diálogo com
as bancadas federais no Congresso Nacional.
A verdade é que a Secretaria
de Representação em Brasília-DF é um órgão que deveria ser visto como uma
política permanente de Estado, pois a sua finalidade maior seria auxiliar o
poder executivo, representando-o politicamente, sempre que possível, na
atividade habitual e rotineira de busca por recursos federais.
É bom lembrar que um estado
como São Paulo possui 70 (setenta) deputados federais com um arsenal de
assessores, enquanto o Tocantins possui apenas 8 (oito), embora tal proporção
se justifique pela população de cada estado a ser representada, o mesmo não
ocorre na busca por recursos, que muitas vezes se sobrepesam na balança para os
Estados mais populosos, em uma proporção desigual, que só se reequilibra no
quantitativo de componentes de recursos humanos e materiais, eficientemente
utilizados para lutar através de argumentos óbvios, a fim de manter parcelas
exigidas muitas vezes apenas para a própria subsistência do Estado menos
populoso.
Por fim, deve-se destacar que
essa é a grande importância da referida atuação em Brasília. Veja, há de se
conscientizar, em especial o cidadão comum tocantinense, que é tal
representatividade que está em jogo, que pode fazer diferença em uma estrada
melhor, uma escola e/ou até um hospital na sua região, portanto é de
fundamental importância a recriação da Secretaria de Representação em
Brasília-DF, para que se dissocie de órgãos com finalidades diversas, tal como
os jurídicos e meramente legislativas, embora seja igualmente fundamental a
harmonia e o diálogo, para que assim possa exercer uma política essencialmente
de Estado na capital federal.
Frederico Cézar Abinader Dutra
Subprocurador do Estado do
Tocantins em Brasília-DF, exercendo as suas atividades nos Tribunais
Superiores. Pós-graduado em Direito Processual Civil e Civil pela Universidade
Cândido Mendes-UCAM, em parceria com a ATAME-DF. Graduado pela Universidade
Católica de Brasília-DF. Já ocupou o cargo de Presidente da Associação dos
Procuradores do Estado do Tocantins-APROETO e de Diretor da Associação Nacional
dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal-ANAPE. Advogado.